Trilha na Floresta Nacional dos Tapajós
A Amazônia é de longe um dos biomas mais importantes do nosso mundo. É um conjunto de ecossistemas com a mais densa bacia hidrográfica do planeta, e o melhor, a maior parte disso tudo fica em nosso país. O Brasil detêm 60% da Amazônia em seu território, distribuídos no Acre, Amazonas, Roraima, Rondônia, Pará, Tocantins, Amapá, Mato Grosso e Maranhão. Conhecer um lugar desses é uma experiência única e uma realidade muito distante para muitos brasileiros, que por muitas vezes nem se interessam em viajar para o norte do país. Mas eu estou aqui para provar o quanto esse lugar é interessante, para isso fui conhecer a região amazônica do Pará, mas precisamente nas regiões de Santarém e Alter do Chão.
Como chegar na Floresta Nacional dos Tapajós
Um dos pontos de partidas ideais para conhecer a Floresta Nacional dos Tapajós, conhecida também como Flona dos Tapajós é a cidade de Alter do Chão a 35km de Santarém. A Floresta Nacional dos Tapajós abrange uma boa parte da região de Alter do Chão, mas existem pontos específicos de acesso a ela, e um deles é a comunidade de Jamaraquá. Fui para lá fazer um Hiking na floresta. O Hiking é como se fosse um Trekking, porém de curta duração.
Em Alter do Chão existem diversas lanchas que levam as pessoas para realizar alguns passeios de barco na região, mas a melhor opção mesmo é solicitar junto as agências de ecoturismo da cidade. O meu foi feito pela Mãe Natureza Ecoturismo, gerenciada pelo Jorge e além dos guias e as taxas de entrada no parque incluía também um delicioso almoço em casa de família na comunidade de Jamaraquá. Essa agência fica na Praça 7 de Setembro em Alter do Chão e todos que fazem o transporte de barco são nativos daquela região e sabem como ninguém os caminhos por ali.
Para caminhar na Floresta Nacional dos Tapajós
Para adentrar a Floresta Nacional dos Tapajós parti rumo a comunidade de Jamaraquá, que fica mais ou menos de 1h30m a 2h de barco descendo o Rio Tapajós. A viagem é muito legal, porque ao descer o rio é possível ter toda uma noção da dimensão daquele lugar. O Rio Tapajós, em sua extensão mais larga mede cerca de 16km, ou seja, é longe pra caramba para travessar de uma ponta para outra, tão longe que em determinados pontos nem dá para ver o outro lado. As vezes eu me sentia no oceano. No percurso, além de apreciar a beleza do Tapajós e das praias de areias brancas que passávamos, ainda eramos surpreendidos pelos serelepes Botos Cor de Rosa, que pulavam de um lado para o outro. Algumas horas e chegamos a Jamaraquá.
A comunidade é bem simples, lá vivem cerca de 30 famílias e alguns indígenas que dependem da criação de animais, artesanato e um pequeno comércio. Jamaraquá não é tão grande, mas de frente para a comunidade existe uma praia de areia branca e água doce de se perder de vista. Para fazer a trilha que começa ali é preciso ter um guia local da comunidade, sozinho não é possível. A comunidade conta com 12 guias e o grupo que for fazer a trilha não pode exceder 4 pessoas por guia. O lugar recebe muito estudantes universitários que vão conhecer a região, então as vezes é possível ver pequenos grupos andando por lá.
A trilha na floresta
A trilha na verdade é uma volta que se faz na floresta, terminando no ponto de partida. Ela tem um percurso de mais ou menos 7km e a duração varia, os mais rápidos fazem em 4 horas e meia, mas houve caso de pessoas que fizeram em 11 horas. Ela é bem demarcada por um caminho e conforme vamos caminhando entramos em uma mata bem densa e úmida, em alguns pontos nem dá para ver o céu, apenas as copas das árvores. Lá dentro podemos ouvir o som da floresta, o vento batendo na copa das árvores e que faz o som parecer a de um riacho e também a mistura do canto de diversas aves. Em determinado momento da caminhada chegamos a um mirante natural no qual podemos ver toda a floresta lá do alto e é uma visão linda. Quem gosta de acampar também vai adorar o lugar, uma vez que existem partes que dá para montar barraca ou rede para pernoitar. Um dos pontos altos de quem vai acampar é poder encontrar uma das maiores árvores da região, que fica a 2 dias da comunidade. O caminho é de acesso fácil-moderado com algumas subidas, mas faz suar.
Árvores Centenárias
Sabe aquelas árvores que parecem coisas do desenho do Tarzan? Pois é, a Flona dos Tapajós está cheia deles. São gigantescas, algumas atingem quase 100 metros de altura. Dentre as maiores que vi no percurso as mais grandes são a Piquiá que chega a ter uma altura imensa e com um tronco muito grosso, mas ela não chega aos pés da Princesa da Amazônia, conhecida também como Samaúma. Essa árvore é centenária na região, algumas chegam a atingir cerca de 800 anos de vida. Ela pode chegar a 90m de altura e pode ter mais de 3 metros de circunferência no tronco. É uma das árvores que eu com meus 1,93m de altura me senti um nanico do lado. Outra grande também é a Carapanaúba, que parece ser formada por cipós, mas na verdade consiste de apenas um tronco.
Uma farmácia a céu aberto
A Floresta Nacional dos Tapajós, assim como muitas por ai é uma grande farmácia natural, acredite, tem remédio para tudo no meio daquele mato, desde repelente natural a perfumes e estimulantes sexuais. A cada metro andado, o Luís que era meu guia me parava para explicar algo medicinal sobre tal planta. Um lugar com matéria prima para inúmeros produtos e remédios e que as vezes são mais eficientes que os próprios remédios.
A casca da árvore Breu Branco por exemplo, serve como repelente de mosquito se esfregada na pele e também a fumaça da queima dessa casca combate dores de cabeça. O chá da casca da Sacaca serve para dor no estômago e ajuda no combate da Malária, assim como a Carapanaúba. O chá do fruto da Piquiá combate diversas infecções no corpo. Já a casca da planta Louro-Rosa é usada como matéria prima na produção de alguns perfumes. E tem também a famosa Seringueira, de onde é extraído o látex para a produção de pneus, borrachas e preservativos. Algumas árvores também servem para construção de barcos, devido a boa qualidade da madeira e também de móveis. Ah, e engana-se que pensa que apenas os vegetais tem utilidade lá, insetos também. A formiga Tachi serve como repelente natural, ela tem um cheiro bem forte e se esfregada na pele, inseto nenhum chega perto.
A fauna é ouvida por todas as partes
O lugar também é riquíssimo em vida animal, desde insetos a animais maiores. Onça? Haha, eu não cheguei a ver, mas para falar a verdade eu estava torcendo para me deparar com uma, mas que estivesse de barriga cheia de preferência. Meu guia contou que certa vez ele estava guiando um italiano e eles se depararam com uma linda Onça Pintada no meio do caminho, ela não pareceu ligar muito e foi embora. A região também é habitat de muitos insetos como abelhas, maribondos, aranhas, escorpiões e formigas, dentre elas a perigosa Tocandira. Répteis como serpentes e calangos. Mamíferos como Porcos do Mato, Macacos, Veados e Preguiças. E aves, dentre elas o do canto mais bonito de todos, o Cricrió, também conhecido como Capital do Mato e Peito de Aço, que apesar de pequeno leva esse nome devido ao seu supapo sônico que pode-se ouvir a distância. Escuta só ele cantando:
Termine num cristalino igarapé
Aqui não tem pote de ouro, mas no fim do arco íris que foi essa trilha na floresta havia um belo igarapé com águas cristalinas, uma fonte natural que nasce na floresta e cai no Rio Tapajós. O lugar é um berço para as principais espécies de animais aquáticos como o Pirarucus e Peixes-Boi e excelente para prática de snorkeling. A água é tão transparente em determinadas partes que é possível ver o fundo e os cardumes de peixes que passavam por ali. Quem é friccionado em aquários também vai adorar ver as espécies de peixes naquele verdadeiro aquário gigante e natural.
Por ali navegamos em uma pequena canoa igarapé a dentro. O cenário é completamente diferente de tudo que já havia visto. São árvores vivas, semi submersas na água, alguns troncos e uma vegetação aquática abundante. No fim, nada melhor do que renovar as energias com um delicioso mergulho nas águas refrescantes do igarapé, junto com vários peixinhos ornamentais.
Minha viagem ao Pará teve o patrocínio do Ministério do Turismo que expande as visitas na região. A Amazônia é um das maiores riquezas do nosso país e penso que todo brasileiro deveria conhecer essa região, uma vez que, por causa de todos os acontecimentos recentes, ela não vai estar ali por muitos ano. Aproveite enquanto há tempo! Visite o Brasil, visite a Amazônia.
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